28.3.06

«Palestino» ou «palestiniano»?

Pormenores importantes

      Nos anos 80, lembro-me, pelo menos as pessoas que gravitavam à minha volta diziam «palestino» e se alguém dizia «palestiniano» era olhado como um excêntrico. Mas agora? Há dias vi com satisfação que o jornal 24 Horas escrevia «Autoridade Nacional Palestina» (edição de 22 de Fevereiro, p. 20). Mas deve ter sido, o que é pena, por distracção, pois em sucessivas edições escreve «palestiniano». Embora ambas as formas estejam registadas no Vocabulário da Língua Portuguesa, do Prof. Rebelo Gonçalves, por exemplo, prefiro a forma «palestino», tanto mais que sei que é por influência do inglês que se impôs a forma «palestiniano» (embora talvez seja decalcado do francês palestinien, como há quem defenda). Para compensar um pouco este unanimismo acrítico ou mesmo acéfalo, dá gosto ver Álvaro Vasconcelos, presidente do Instituto de Estudos Estratégicos e Internacionais, provavelmente o português que mais fala destas questões, dizer sempre «palestino». «Questão palestina», «autoridade palestina», «territórios palestinos», etc. Acresce que é mais fácil pronunciar «palestino», parece-me.

      Deitemos uma quase escusada olhadela à imprensa:

«Nome do moderado Ismail Haniyeh será comunicado amanhã ao líder da Autoridade Palestiniana.» O Independente.

«O Hamas anunciou ontem a nomeação para primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana de Ismail Haniyeh […].» Público, 17.2.2006.

«O Presidente da Autoridade Palestiniana (AP), Mahmud Abbas, convidou, ontem, Ismail Haniyeh a formar governo.» Diário de Notícias, 22.2.2006, p. 15.

«O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, rejeitou o programa de governo do Hamas, afirmou ontem um alto responsável palestiniano», Correio da Manhã, 12.3.2006, p. 40.

«Os dirigentes israelitas ameaçaram deixar de pagar impostos à Autoridade Palestiniana (AP) após a tomada de posse do Hamas no Parlamento e ameaçaram também acabar com os financiamentos à AP em todo o mundo árabe.» Expresso, 18.2.2006, p. 24.

«Os EUA suspenderam as ajudas e Israel insiste em não enviar os 42 milhões de euros mensais a que a Autoridade Palestiniana tem direito», Visão, 2.3.2006.

Tenho à minha frente a 21.ª edição (2001) do Diccionario de la Lengua Española, da Academia Espanhola, e lá está:

«palestino, na. (Del lat. Palaestīnus). adj. Natural de Palestina. 2. Perteneciente o relativo a este país de Asia.»
Não regista «palestiniano», até porque os Espanhóis não usam esta variante (bem, talvez alguns espanhóis, ignorantes também, o façam). Compulsando o incompletíssimo e inçado de erros Dicionário da Academia, comprovamos, com raiva e desgosto, que não regista «palestino».

2 comentários:

Unknown disse...

Incompletíssimo "Dicionário da Academia", sim. Mas porquê "inchado de erros"? Tenho uma edição desse dicionário e gostaria de conhecer alguns desses erros.

Helder Guégués disse...

E acha que eu ia perder tempo com alguém que me cita dessa forma, «inchado de erros»? Enxergue-se.