14.10.09

Lacunas lexicográficas


Canté!



      «As memórias de Vitorino são embaladas pelo canto alentejano e pelo tango. No Redondo, quando era ainda pequeno, sabia sempre que era dia de cinema quando pelo altifalante instalado no telhado do cine-teatro saíam os sons de Adios pampa mia, de Carlos Gardel» («Vitorino canta o tango argentino com sotaque alentejano», Maria João Caetano, Diário de Notícias, 13.10.2009, p. 66). Canto ou cante alentejano. Não conheço nenhum dicionário que registe o termo cante, e bem podiam. O Dicionário Houaiss, por exemplo, regista cante hondo. É provável que o étimo do nosso vocábulo esteja no espanhol cante («Acción y efecto de cantar cualquier canto popular andaluz o próximo», in DRAE). Vitorino, tanguista? Não, o cantor «tinha um pé duro». Na língua portuguesa, tanguista é somente aquele que dança tangos, ao passo que em espanhol o vocábulo designa também o autor ou intérprete de tangos. (Cara Maria João Caetano: à casa de espectáculos com capacidade para a representação de peças de teatro e para a projecção de filmes dá-se o nome de cineteatro — sem hífen. Ah, e o título é Adiós, pampa mía!...)

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